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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Natação engorda?


A natação é um dos esportes mais praticados do mundo, sendo normalmente recomendado para pessoas com problemas respiratórios, com lesões músculo-esqueléticas e pessoas desejando perder peso. Especificamente com relação à perda de peso, acredita-se que a natação forneça um alto gasto energético por envolver um grande número de músculos em seus movimentos.


No entanto, é paradoxal ver que nadadores normalmente apresentam maiores quantidades de gordura corporal em comparação com atletas de outras modalidades. Como exemplo podemos citar um estudo da década de 1980 no qual foram comparados nadadores e corredores. Os resultados mostraram diferenças em atletas de ambos os sexos, no caso dos homens, os corredores possuíam em média 7% de gordura, enquanto os nadadores possuíam 12%, já para as mulheres os valores foram de 15 e 20%, respectivamente (Jang et al, 1987). A análise de gasto calórico não revelou a origem da diferenças, no caso dos homens não houve diferença entre o balanço energético nem entre o gasto calórico (3380 para nadadores e 3460 kcal para corredores). No caso das mulheres, a situação foi ainda mais paradoxal, tendo em vista que as nadadoras gastavam mais energia (2490 x 2040 kcal) e ainda se encontravam em um balanço energético negativo (Jang et al, 1987).

Ao observar a comparação entre atletas, pode-se alegar que as diferenças de composição corporal sejam atribuídas à seleção natural, pois nadadores se beneficiariam menos de corpos mais densos. No entanto, os estudos usando tais atividades como intervenção trazem testemunho contra a natação. É o caso do estudo publicado por Gwinup em 1987, comparando três atividades: caminhada, cicloergômetro e natação. O experimento durou seis meses e o tempo das atividades foi aumentado até se chegar a 60 minutos diários. Após o término do estudo, que não envolveu restrições alimentares, as praticantes de caminhada perderam 10% do peso inicial, as de ciclismo 12% e as de natação não perderam peso algum (na verdade houve um aumento médio de 2,5 quilos), adicionalmente a análise da composição corporal revelou que não houve perda de gordura nas nadadoras.

Uma das explicações para a suposta ineficiência da natação na redução da gordura corporal está em um possível aumento de apetite causado pela atividade, fato que alguns praticantes relatam através da observação pessoais. No entanto, o estudo de Jang et al (1987) não encontrou diferenças entre a ingestão de calorias de corredores e nadadores, e estudos em animais mostram que as mudanças no comportamento alimentar decorrentes do treino de natação podem ser positivas, diminuindo a ingestão de gorduras (Boghossian & Alliot, 2000; Boghossian et al, 2000). Isto também não parece ocorrer em atletas, como mostra estudo realizado com uma equipe universitária de natação, no qual foi verificado que o aumento de volume e intensidade dos treinos não era acompanhado por um aumento proporcional da ingestão calórica, levando a redução da gordura corporal (Barr & Costill, 1992). Em de 1999, Lambert et al compararam a ingestão de energia 2 horas após 45 minutos de natação ou corrida (a 71,8% do VO2máx) em triatletas bem treinados e verificaram que não havia diferença na percepção de fome nem na ingestão calórica após as atividades.

Um possível efeito agudo no metabolismo também não pode ser usado como justificativa. Em um estudo de Flynn et al (1990), foram comparados os efeitos da corrida e da natação (45 minutos a 75% do VO2 máx) no metabolismo durante as duas horas seguintes às atividades. Os resultados mostraram que o gasto calórico tanto no exercício quanto no repouso era similar nas atividades, no entanto, o taxa de troca de gases sugere uma maior utilização de gordura para natação.

Considerações finais

Apesar de ainda não existir uma explicação para o fenômeno, a literatura atual não fornece suporte para a crença comum de que a natação seja uma “excelente” atividade para perda de gordura, não havendo evidências de sua superioridade sobre as demais. Entretanto ainda é necessário estudar as variações metodológicas para se ter um posição mais precisa quanto à real eficiência da atividade, antes de rotulá-la como ineficiente.

Certamente a natação é uma atividade excelente, sendo útil para diversas situações, especialmente como uma forma de lazer e de segurança, no entanto ela vem sendo prescrita de forma generalista por profissionais desinformados. Com a crescente popularidade deste esporte, profissionais acomodados vêm enxergando-a como uma panacéia para casos de problemas articulares, osteoporose, obesidade, perda de peso e diversas outras situações onde ela pode não trazer os resultados esperados quando comparada com outras atividades.
É importante que a natação seja praticada e recomendada pelos diversos benefícios que ela pode realmente produzir, no entanto, deve-se ter cuidado para não se prescrevê-la de maneira irresponsável, o que pode afastar o aluno dos resultados e eventualmente rotular esta atividade como “inútil”.

Referências bibliográficas

Barr SI, Costill DL. Effect of increased training volume on nutrient intake of male collegiate swimmers. Int J Sports Med. Vol.:13 n°1 pp:47-51, 1992.
Boghossian S, Alliot J. A moderate swimming exercise regularly performed throughout the life induces age and sex-related modifications in adaptive macronutrients choice. Mech Ageing Dev. Vol.120 n°1-3 pp:95-109, 2000.
Boghossian S, Veyrat-Durebex C, Alliot J. Age-related changes in adaptive macronutrient intake in swimming male and female Lou rats. Physiol Behav. Vol.69 n°3 pp:231-8, 2000.
Flynn MG, Costill DL, Kirwan JP, Mitchell JB, Houmard JA, Fink WJ, Beltz JD, D Acquisto LJ. Fat storage in athletes: metabolic and hormonal responses to swimming and running. Int J Sports Med. Vol.11 n°6 pp:433-40, 1990.
Gwinup G. Weight loss without dietary restriction: efficacy of different forms of aerobic exercise. Am J Sports Med. Vol.15 n°3 pp:275-9, 1987.
Jang KT, Flynn MG, Costill DL, Kirwan JP, Houmard JA, Mitchell JB, D Acquisto LJ. Energy balance in competitive swimmers and runners. Journal of Swimming Research. Vol.3 n°1 pp:19-23, 1987.
Lambert CP, Flynn MG, Braun WA, Boardley DJ. The effects of swimming and running on energy intake during 2 hours of recovery. J Sports Med Phys Fitness. Vol.39 n°4 pp:348-54, 1999.

Paulo Gentil
06/02/2005




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