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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Conseqüências do treinamento de força nas fases de formação da criança à adolescência do sexo masculino

Treinamento de força prejudica o crescimento ?

Tinha-se o conceito que existia um "efeito pressão" sobre as
epífises ósseas (extremidades) da criança e adolescente na realização de
treinamento de força que esse trabalho acelerava a calcificação óssea,
portanto prejudicava o crescimento. O treinamento de força estava
relacionado a grandes massas musculares e grandes levantamento de pesos.
Sabemos hoje que tal treinamento consiste em uma atividade física ,
que pode desenvolver várias valências físicas de acordo com a forma de
trabalho , e adequada a todas as idades por ser individualizada. E ainda a
atividade física consiste em um dos meios para se estimular o hormônio de
crescimento pela hipófise , portanto muito pelo contrário , o treinamento de
força, se bem orientado , pode até ajudar no crescimento. ( Vitor
Augusto:1998)

No entanto, toda e qualquer Atividade Física deve enquadrar-se nos
princípios que são descritos abaixo, pois caso contrário estas nunca atingirão
um status de Atividade Física propriamente dita de treinamento, restringindose
a um enfoque meramente recreativo (não desvalorizando esse aspecto que
tem grande importância). O fato é que, ao falarmos de atividade física
enquanto condição de melhoria da aptidão física, não podemos fugir dessa
realidade. É claro que pode-se usar recursos recreativos, porém não como um
fim, mas como um meio para atingir os objetivos que a prática de exercícios
proporcionam.

As fases da formação

As fases de formação do ser humano se distinguem em três
estágios, denominados crescimento, desenvolvimento e maturação.
Particularmente, as duas partes interessantes ao objetivo deste estudo
consistem no crescimento e desenvolvimento, onde o atleta irá desenvolver o
aumento do corpo e suas mudanças funcionais.
Na pré-infância, têm - se o primeiro ano de vida;
A infância compreende o período que vai do final da pré-infância
até o começo da adolescência, e o seu final também possui a denominação
de pré-puberdade.
A adolescência começa com o final da infância e segue até a fase
adulta. Cronologicamente, não é uma fase simples de ser definida, por ser
muito variável e individual, no entanto é denominada também de puberdade, e
é onde a capacidade de reprodução e as características sexuais secundárias
são atingidas e definidas. No sexo masculino, em sua maioria, vai dos dez
aos vinte e dois anos.
O processo da formação óssea e seu estágio na infância /adolescência
Os ossos, em parte, provém de tecidos cartilagíneos e, após isso,
passam pelo processo de ossificação. Tal processo têm início no período prénatal
e tem seu término entre os 20-25 anos de idade, onde se consolida a
soldadura das cartilagens de conjugação. A razão da polêmico sobre o
treinamento de força situado no período infância/adolescência provém do
paradigma criado pela interpretação radical deste processo e de seus termos:
durante o período da infância, o aparelho de suporte ainda não se encontra
calcificado - os discos epifisários dos ossos compridos não se encontram
ossificados, sendo assim mais elásticos e maleáveis, e menos resistente as
pressões e trações. Dentro deste quadro, é maior a possibilidade de
microtraumatismos e lesões de sobrecargas, que atingem as cartilagens de
crescimento. Já durante a adolescência ocorre o aumento da cargabilidade, o
que no entanto não significa que já pode ser considerada a potencialidade de
cargabilidade total.
É reconhecido que, mesmo se aplicados processos de treino
adequados, os jovens atletas poderão vir a sofrer microtraumatismos na
junção das unidades músculo- tendinosas ao osso, de onde podem vir a
resultar inflamações e lesões nestas áreas.

O conceito de força

Dentro da capacidade física, a força de homem é relacionada
com a capacidade de superação da resistência externa e de contra-ação a
esta resistência, realizada por meio de esforços musculares. Esta força
muscular, por sua vez, consiste na quantidade máxima de foça que um
músculo ou grupo muscular possam gerar em um padrão específico e em
uma velocidade de movimento.
Isto consiste na ocorrência necessária para que se realize
qualquer ação motora, mas deve-se considerar que o caráter manifestativo da
força pode ocorrer de maneiras muito diferentes. Dentro deste conceito,
podemos definir os seguintes tipos de força:
A força máxima, que consiste no nível de força que o atleta é capaz de
alcançar e por razão da tensão muscular livre;
A força de velocidade ou de explosão, que consiste na capacidade de
superar o mais velozmente possível a resistência;
Resistência de força, que é determinada pela capacidade do atleta
realizar, durante um tempo prolongado, os exercícios com peso, mantendo os
parâmetros do movimento.

Treinamento - seus tipos e conceitos

Divido em três tipos, o treinamento tanto pode ser isométrico ( onde
durante a contração, o comprimento do músculo não varia); dinâmico ( onde
na contração, o músculo se contrai contra uma resistência móvel, encurtandose
ou alongando-se de maneira que é executado um trabalho mecânico,
percorrendo uma certa trajetória) ou de choque ( onde é destinado ao
desenvolvimento da força rápida dos músculos e da capacidade reativa do
aparelho neuro-muscular).

Tipos de contração muscular

As contrações musculares se dividem em dois tipos: as isométricas (
realizada sem alteração do comprimento do músculo, uma vez que a
resistência é igual a força máxima que um músculo consegue produzir), e
pode também consistir em uma contração isotônica ( que ocorre sem haver
alterações na tensão máxima do músculo, e podem ser agrupadas em
concêntricas - quando ocorre o encurtamento dos sarcômeros de músculo
agonista devido a força maior que a resistência - e exêntrica - se a força
gerada pelo músculo for menor que a resistência.

Uma vez feita a explanação sobre os principais conceitos que
englobam o assunto - Treinamento de força - suas possíveis relações com
lesões em crianças e adolescentes do sexo masculino praticantes de esportes
onde o estímulo da força é essencial para o rendimento, agora vamos
adentrar sobre suas possíveis relações com lesões ocorridas na faixa em
estudo.

Sabendo que o desenvolvimento dos ossos das crianças pode ser
intensificado com exercícios de força, é dado que o treinamento desta área
aumente a tensão muscular, coeficiente de tensão e compressão, que
constituem ponto importante para a o estímulo da modelagem do osso.
Considerando também que este tipo de treinamento, quando realizado em
adultos, ajuda a prevenir lesões, e correm evidências também de seu auxílio
na prevenção das mesmas em atletas adolescentes, vemos que ele se torna
um ponto preocupante se colocado em parte com danos à cartilagem de
crescimento em crianças.

Este tipo de lesão pode vir a produzir uma superfície articular
irregular e conseqüente dor durante o movimento da articulação. Por tal
razão, um treinamento adequado para crianças, não deve se concentrar em
principal no levantamento de cargas máximas ou próximas a este parâmetro,
diminuindo assim, consideravelmente o risco de uma lesão aguda, que,
mesmo sendo raras de ocorrência, estão relacionadas com o treinamento com
pesos realizado de maneira excessiva e inadequada.

Beneficamente, as alterações positivas ocorridas devido a este
tipo de estimulação - o treinamento de força na faixa etária citada - a alteração
tida como a mais comum é o aumento na espessura da cartilagem em todas
as articulações. Na área óssea, ocorre maior atividade enzimática, maior força
de ruptura, e em alguns casos, hipertrofia óssea. O aumento da força de
ruptura é fato constatado tanto nos ligamentos quanto nos tendões, isto pode
ser interpretado como significativo de maiores tendões, e, assim sendo,
menor chance de lesões. Mas também têm-se o aumento da capacidade do
músculo treinado em mobilizar e oxidar gordura, as alterações na composição
corporal nas pessoas obesas, incluindo redução do peso corporal e
diminuição na gordura corporal e o aumento do peso corporal magro,
subsequente aos programas de treinamento de resistência.
Porém, um ponto que se torna fator de reflexão no assunto é o
fato do amadurecimento constante das crianças, e as alterações em suas

adequações e aplicações. Com base em afirmação da Associação Nacional
de Força e Condicionamento, Sociedade Americana para a Medicina do
Esporte e a Academia Americana de Pediatria, é possível afirmar que as
crianças podem se beneficiar de sua participação em um programa de
treinamento de força bem supervisionado e prescrito, e com isso podem ver
aumentar sua força muscular e resistência muscular localizada; sentir a
diminuição de lesões nos esportes e atividades recreativas e se beneficiar do
aumento da capacidade de desempenho nos esportes e atividades
recreativas. Incrementar a força muscular é possível tanto em crianças quanto
em pré-púberes.

A ocorrência de lesões e o aumento das mesmas nesta faixa
etária, muitas vezes decorre da ânsia em obtenção de resultados, proveniente
até mesmo da própria ansiedade natural etária do atleta, ou mesmo de
pressões externas , e até mesmo decorrer da falta de conhecimento
específico para ministrar este tipo de treinamento nesta faixa transitória,
agarrando-se a paradigmas falsos ou ultrapassados ou a métodos que
desrespeitem a situação do atleta.

A prevenção de lesões entra como neste patamar. Um programa
de treinamento de força para crianças não deve se concentrar
fundamentalmente no levantamento de quantidades de cargas que explorem
seu potencial máximo ou proximidades, e crianças precisam de um tempo
para se adaptar a tensão imposta pelo treinamento de força. Para se
conseguir um menor índice de erro e compreender melhor a situação exposta,
leve em consideração a regra dos três anos, onde um atleta só deve realizar
exercícios de força com, barra livre, tais como agachamento, somente após
três anos de preparação preliminar geral.

CONCLUSÃO

Podemos concluir, desta maneira, que o treinamento de força
pode vir a ser uma fonte de benefícios sim para a criança e o adolescente,
desde que seja ministrada conforme suas necessidades e fragilidades. O
excesso de cobranças e a ânsia por resultados leva muitas vezes ao
atropelamento do ritmo correto que o treinamento deve seguir. Os benefícios
a serem conquistados com este tipo de treinamento, tomado com seus
devidos cuidados à composição óssea do atleta e a seu momento específico,
englobam:

Aumento da força muscular, que aumenta a capacidade funcional da
criança como protege as articulações pelas quais estes músculos passam,
protegendo-as de lesões.

Melhoria da coordenação muscular;
Aumento da resistência muscular;
Diminuição das lesões relacionadas com o esporte e atividades
recreacionais;
Manutenção ou aumento da flexibilidade;
Melhor controle postural;
Aumento da densidade óssea;
Melhoria da composição corporal;
Aumento das adaptações bioquímicas: maiores concentrações de sangue
e ácido lático nos músculos durante e depois do exercício máximo;
aumento das reservas de glicogênio e ATP - PC e aumento da atividade de
enzimas glicolíticas nos músculos esqueléticos.

Como pode-se notar, a prática do treinamento de força de maneira
adequada e correta para a criança e ao adolescente, vem a agir até mesmo
como uma forma preventora de lesões e danos a estrutura de sustentação e
crescimento, uma vez que a prática correta estimula a proteção e preservação
das possíveis áreas de lesão.

Temos em mãos, uma forma de desenvolver dentro do país um
potencial ainda adormecido, afundado em profundo sono pelo paradigma
recreativo, que foi implantado e colado à Educação Física como verdade
absoluta. O grande numerário de atletas que se encontra limitado pela falta de
disseminação das vantagens da aplicação correta deste tipo de treinamento, e
o constante aperfeiçoamento certo de sua ministração, deixa o Brasil como
uma potência olímpica adormecida. Enquanto em países desenvolvidos e
reconhecidos como fontes de revelações atléticas precoces, desenvolvem
este tipo de treinamento freqüentemente, e possuem meios de bem formular
sua aplicação, nos encontramos em um patamar deficitário e ainda
mistificado desta área.

Após levantamento na literatura, publicações e periódicos a
conclusão é de que o treinamento de força para crianças, pré-adolescentes,
adolescentes, pode ser realizado desde que seja tomado alguns cuidados
com a cargabilidade e forma de execução dos exercícios e periodização. Na
literatura foi encontrada subsídios bastante expressivos, que derrubam de
uma vez por todas, a idéia de que não se pode treinar força com crianças em
fase de formação, mas todos que assim afirmaram, fizeram algum resguardo
sobre a forma de se treinar a força.

Uma avaliação minuciosa, incluindo detecção de desvios posturais,
o perfil psicológico e a anamnese são ferramentas imprescindíveis que o
profissional deve utilizar para poder selecionar, com segurança, quais
exercícios devem ser incluídos na programação da criança (RAMOS, 2000, p.
59).

Autor: Jairo Ricardes Rodrigues
Graduado em Educação Física na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS
Pós Graduado em Treinamento Esportivo – UNIVERSO
Pós Graduado em Judô - Universidade federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Mestrando em Ciências da Saúde – UNB
Aluno especial de Doutorado – UNB
jairorr@terra.com.br

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