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terça-feira, 2 de março de 2010

Fibromialgia

Introdução

Para facilitar a compreensão desse tema faz-se necessário definir o que é uma síndrome. Síndrome é um conjunto de sintomas / sinais que podem ser produzidos por mais de uma causa e que necessita de um diagnóstico de exclusão para se chegar a uma conclusão.

A fibromialgia é uma síndrome crônica caracterizada por dores nos músculos e tecidos conectivos fibrosos (tendões e ligamentos) com pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas (WOLFE, et al 1990). As causas ainda não estão totalmente esclarecidas, entretanto, recentes evidências cientificas sugerem que alterações no metabolismo e na regulação de determinadas substâncias do Sistema Nervoso Central (serotonina, noradrenalina, e substância P) podem contribuir para o seu desenvolvimento. (LAWRENCE e LEVENTHAL 1999).


A origem da fibromialgia está associada a fatores genéticos, neuroendócrinos e psicológicos (MOLDOFSKY, 1989), além de várias outras manifestações que acompanham seu diagnóstico, tais como (WOLFE, 1986; DINERMAN, GOLDENBERG, FELSON, 1986):

- Distúrbios do sono;

- Síndrome do colón irritável (problema digestivo cólica abdominal);

- Cefaléia (dores de cabeça 50% dos casos);

- Fenômeno de Raynaud (20 e 35% - diminuição do fluxo sanguíneo para alguns tecidos ou órgãos);

- Fadiga muscular;

- Ansiedade;

- Depressão (25%);

- Parestesia (expressa por um formigamento);

- Estresse;

- Rigidez muscular ao acordar entre outras menos freqüentes.

Esta síndrome atinge de 1 a 5% da população, em geral (WOLFE & CATHEY, 1983) 73 - 88% dos casos são diagnosticados em mulheres com 29 a 37 anos de idade (início), sendo confirmados, entre 34 e 57 (WOLFE et al, 1990 ). No Brasil não existem dados oficiais, porém estima-se que mais de 5% da população tenha probabilidade de desenvolve-la.

Apesar da fibromialgia ter sido descrita a mais de 150 anos, somente nas últimas décadas seu conceito evoluiu, diferindo da visão que se tinha há 20-50 anos atrás (KELLY, 1946; REYNOLDS, 1983). O fato de ser uma síndrome, de existir uma grande confusão em relação à terminologia utilizada e as inúmeras sobreposições a outras síndromes fizeram com que, durante muito tempo, os estudos fossem prejudicados.

A terminologia Fibromialgia foi proposta por HENCH em 1976, e já no ano seguinte SMYTHE e MOLDOFSKY elaboraram critérios para o seu diagnóstico. Nesse meio tempo, os estudos começaram a detectar que muitos pacientes com a síndrome apresentavam, as seguintes regiões anatômicas dolorosas em comum: o epicôndilo lateral, a região costocondral e os grupamentos musculares da região cervical.

Em 1990 O Colégio Americano de Reumatologia propôs que focos de dor difusa (forte e persistente) fossem usados como critérios diagnósticos, podendo ser identificados em 18 pontos bilaterais do corpo (figura1), dentre os quais pelo menos 11 devem ser detectados por digitopressão de 4 kg/cm2, para que seja caracterizada a fibromialgia (WOLFE et al, 1990). Entretanto, SMYTHE, BUSKILA e GLADMAN (1992) sugerem que pacientes com menos de 11 pontos dolorosos também poderiam ser considerados fibromiálgicos desde que outros sintomas e sinais estivessem presentes.

Para realizar o exame dos pontos, deve-se manter o paciente sentado sobre uma mesa apropriada, na qual o avaliador realiza o teste questionando sobre a sensação dolorosa de cada ponto padronizado, um por vez, bilateralmente e de cima para baixo (WOLFE et al., 1990 ).

Pontos padronizados de dor:

- Trapézio;

- Segunda Condrocostal;

- Epicôndilo Lateral;

- Joelho;

- Suboccipital;

- Cervical;

- Supraespinhal;

- Glúteo;

- Trocanter.

Tratamento

O objetivo do tratamento é melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Para isso, são usados farmacológicos e outras terapias como: suplementação de vitaminas, repouso, exercícios, acupuntura, hipnose e preces (RICHARDS e CLEARE, 2000).

Analgésico e antiinflamatórios são comumente prescritos para o controle da dor, porém a eficiência não é significativamente efetiva, principalmente em longo prazo (RICHARDS e CLEARE, 2000) .
Os antidepressivos, em baixas doses, são recomendados para melhorar a qualidade do sono, fadiga ao acordar e diminuição dos pontos dolosos (CARETTE et al, 1986).

O uso de hipnóticos é outra terapia recomendada, por atuar na melhora do sono e na fadiga diurna, porém não se mostrou eficiente na redução da dor (MOLDOFSKY et al).

Algumas práticas devem ser especialmente evitadas por portadores de fibromilagia, como tabagismo e o alcoolismo. Pesquisas revelam que pacientes ao deixaram tais hábitos conseguiram melhorar a qualidade do sono, a sensação de dor difusa, intestino irritável e cefaléia.

Exercícios

Os portadores de fibromialgia demonstram uma boa aderência aos exercícios, sendo até mais assíduos e persistentes que indivíduos em tratamento para o controle do estresse (WINGERS; STILES e VOGEL; 1996).
Uma pesquisa feita por MAQUET et al em 2002, comparou a performance muscular de mulheres com fibromialgia e mulheres saudáveis. Os teste realizados foram: força isométrica máxima dos músculos extensores e flexores do joelho, força de pressão manual, resistência à fadiga muscular e estática durante manutenção da postura. Em todos os testes as mulheres com a síndrome apresentaram valores inferiores ao grupo controle: 39% a menos para força muscular, 40% para resistência de fadiga, e 81% para resistência estática. Uma observação, todas as mulheres da amostra praticavam, no máximo, atividades recreativas.

Apesar da probabilidade das pacientes com fibromialgia apresentarem uma menor performance muscular, os exercícios são extremamente benéficos para aptidão física, aspectos psicosociais e simatologia (KARPER e STASIK 2003). No tocante ao tempo e magnitude das adaptações neuromusculares (área de secção transversa do músculo, níveis de força máxima, e concentrações hormonais), mulheres com fibromialgia, demonstram resultados praticamente iguais a mulheres saudáveis depois de realizarem um treinamento de força (HAKKINEN 2002).

Há uma preocupação excessiva em relação ao agravamento do quadro com a realização de exercícios, porém estudos demonstram que não há reações adversas advindas da atividade física bem orientada (MARTIN et al 1996; KARPER e STASIK 2003).

Considerações Finais

Há razões para sermos otimistas quanto ao tratamento da Fibromialgia. A ciência garante que está cada vez mais perto do enigma ser desvendado. O maior problema enfrentado pelos Reumatologistas é que pouco se sabe sobre os mecanismos da dor crônica, pois ela não possui manifestações inflamatórias ou auto-imunes, o que dificulta o tratamento.

O caminho Holístico é a maneira mais eficiente na busca pela melhora da qualidade de vida desses indivíduos. A integração de diversas terapias, envolvendo diferentes áreas como a Educação Física, Psicologica, Psiquiatrica, Nutrição, Fisioterapia, Farmacologia e terapias alternativas, tem sido o principal meio para minimizar os sintomas.
Os pacientes devem ser cuidados de forma individual e sempre levar em consideração a interação mente e corpo.
Com relação ao sintoma principal, dor difusa, ela pode ser aliviada com analgésicos, porém esse tratamento tem se mostrado, em muitos casos, pouco eficientes assim como os antiinflamatórios. Os medicamentos neuropáticos também fazem parte dos farmacológicos, entretanto pouco se sabe, sendo necessário mais estudos. Quanto aos que afetam os receptores de serotonina e noradrenalina (antidepressivos), esses sim, parecem demonstrar efeitos mais consistentes na diminuição da dor, além de colaborarem com a melhora do sono (LAWRENCE e LEVENTHAL 1999).

A prática de exercícios se mostrou eficiente trazendo, além de todos os benefícios que já conhecemos, melhoras no sono e na dor difusa.

Referências Bibliográficas

CARETTE, S.; MCCAIN, G.A.; BELL, D.A.; FAM, A.G. - Evaluation of amitriptyline in primary fibrositis: a double-blind, placebo-controlled study. Arthritis Rheum., 29:655-9, 1986.
DINERMAN, H.; GOLDENBERG, D.L.; FELSON, D.T. - A prospective evaluation of 118 patients with the fibromyalgia syndrome; prevalence of Raynaud's phenomenon, sicca symptoms, ANA, low complement, and Ig deposition at the dermal-epidermal junction. J. Rheumatol., 13:368-73, 1986.
HAKKINEN K, PAKARINEN A, HANNONEN P, HAKKINEN A, AIRAKSINEN O, VALKEINEN H, ALEN M. Effects of strength training on muscle strength, cross-sectional area, maximal electromyographic activity, and serum hormones in premenopausal women with fibromyalgia. J Rheumatol. 29(6):1287-95.2002.MARTIN, L.; NUTTING, A.;
HENCH, P.K. - Nonarticular rheumatism, Twenty-second rheumatism review: of the American and English literature for the years 1973 and 1974. Arthritis Rheum., 19(suppl.):1081-9, 1976.
KARPER WB, STASIK SC. A successful, long-term exercise program for women with fibromyalgia syndrome and chronic fatigue and immune dysfunction syndrome. Clin Nurse Spec. 2003 Sep;17(5):243-8.
KELLY, M. - The nature of fibrositis. Ann. Rheum. Dis. 5:69-77, 1946.
LAWRENCE J. LEVENTHAL, MD. Management of Fibromyalgia. Annals of Internal Medicine. 1999 Dec;131(11).
MACINTOSH, B.R.; EDWORTHY, S.M.; BUTTERWICK, D.; COOK, J. - An Exercise program in the treatment of fibromyalgia. J. Rheumatol., 23:1050-3, 1996.
MAQUET D, CROISIER JL, RENARD C, CRIELAARD JM. Muscle performance in patients with fibromyalgia. Joint Bone Spine. 2002 May;69(3):293-9.
MOLDOFSKY, H. Sleep and fibrositis syndrome. Rheum. Dis. Clin. North Am., 15:91-03, 1989.
MOLDOFSKY, H.; LUE, F.A.; MOUSLY, C.; ROTH-SCHECHTER, B.; REYNOLDS, W.J. - The effect of zolpidem in patients with fibromyalgia: a dose ranging, double blind, placebo controlled, modified crossover study. J. Rheumatol., 23:529033, 1996.
REYNOLDS, M.D. - The development of the concept of fibrositis. J. Hist. Med. Allied. Sci., 38:5-35, 1983.
SMYTHE, H.A. & MOLDOFSKY,.H. - Two contributions to understanding the "fibrositis" syndrome. Bull. Rheum. Dis., 28:928-31, 1977
SMYTHE, H.A.; BUSKILA, D.; GLADMAN, D.D. - Performance of scored palpation, a point count, and dolorimetry in assessing unsuspected nonarticular tenderness. J. Rheumatol., 20:352-7, 1993.
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WOLFE F, SMYTHE HA, YUNUS MB, BENNETT RM, BOMBARDIER C, GOLDENBERG DL, et al. The American College of Rheumatology 1990. Criteria for the Classification of Fibromyalgia. Report of the Multicenter Criteria Committee. Arthritis Rheum. 1990;33:160-72.
WOLFE, F. & CATHEY, M.A. - Prevalence of primary and secondary fibrositis. J. Rheumatol., 10:965-8,1983.

Elke Oliveira
29/02/2004

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